terça-feira, 13 de julho de 2010

Renasceu!

Alguns céticos e insensíveis podem argumentar: 'Mas porque tanto destaque pro time que sequer conseguiu ficar entre os 3 primeiros?'. Se a análise for fria e apenas baseada nos números finais isso talvez pudesse ser levado em conta. Mas felizmente o futebol não é assim.

Se é especial poder acompanhar o surgimento de boas novas seleções na Copa do Mundo, o que dizer então do privilégio de ver o renascimento de uma bi-campeã das Copas? A Celeste é uma espécie de 'entidade' na história do futebol, tanto que, mesmo fora do cenário de destaque do esporte há anos, ainda assim é uma das poucas seleções também conhecida pelo apelido (no caso, Celeste), e não só pelo nome do país. Basta ter o mínimo conhecimento do cenário que antecedeu o surgimento do Mundial da FIFA (1930, exatamente no Uruguai) para entender a grande importância desse pequeno país sulamericano.
O Uruguai foi a primeira grande seleção da história a se destacar, quando conquistou o bicampeonato olímpico (1924 e 1928), o que abriu caminho para a América do Sul ter a importância que tem no cenário do futebol. Veio então a primeira Copa do Mundo, disputada em Montevidéu, e a Celeste confirmou o favoritismo sagrando-se a primeira campeã. O segundo título viria em 1950, no Maracanazzo. Se esse episódio é considerado a maior tragédia do futebol brasileiro, ao mesmo tempo é a maior vitória da história do futebol uruguaio, e uma das maiores façanhas das Copas. Na época muitos críticos brasileiros argumentaram 'Como pode um país com apenas 2 milhões de habitantes vencer o outro que tem mais de 50 milhões?', e os uruguaios sabiamente respondiam 'Em campo só entram onze de cada lado!'.

Particularmente partilho da opinião de Nelson Rodrigues, quando diz que 'no futebol o que procuramos é o drama!', posso dizer que naquela tragédia surgiu o 'país do futebol', a grande paixão dos brasileiros. Para exemplificar: Ao ver seu pai chorar a derrota de 1950 ao pé do rádio, Pelé, na época aos 9 anos, prometeu que lhe daria uma Copa do Mundo, o que de fato se concretizou 8 anos depois, com o menino, então com 17 anos, desesperado atrás de um telefone para se comunicar com o pai após aquela final contra a Suécia. Chega a ser irônico, com a derrota naquele fatídico Maracanazo nasceu a maior potência do futebol e, alguns anos depois, a seleção que saiu vitoriosa veria o futebol do seu país entrar em uma triste decadência.

Se o êxodo dos jogadores para a Europa é um dos males que assola o futebol brasileiro e, mais ainda, o argentino, então imaginem o estrago que isso causa em um país com população pouco maior que 3 milhões de habitantes. Os maiores clubes do país estão mais do que falidos, as jovens promessas partem cada vez mais cedo para o Velho Continente e a preços irrisórios. Juntemos isso a 'politicagem' de cartolas, um campeonato nacional falido, e encontraremos o triste cenário que há anos encontra-se o futebol do país. Os quarenta anos sofríveis e despercebidos da Celeste nas Copas é o maior reflexo de tudo isso.

Com todos esses aspectos, me digam se é possível amar o futebol e não ficar feliz com a campanha da Celeste? Não apenas por ter chegado as semifinais quarenta anos depois, mas principalmente por ter renascido com ídolos (Forlán, Lugano, Suárez...) e principalmente, abrilhantado a quase cinzenta Copa de 2010.

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